Segunda-Feira, 18 de Junho de 2018 - Hora:13:52

UnB desenvolve e registra camisinha com látex à prova de alergia

Borracha é revestida com tanino, usado no tratamento do couro. Hoje, alérgicos recorrem a polímeros sintéticos; OMS estima 145 milhões de pacientes no mundo.

 

Universidade de Brasília (UnB) desenvolveu um protótipo de camisinha que pode ser usada por quem tem alergia a látex. Já patenteada, a iniciativa tem potencial para ajudar quem sofre de restrição à borracha.

 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, em todo o mundo, cerca de 145 milhões de pessoas têm alergia ou hipersensibilidade ao látex. Atualmente, esse grupo precisa recorrer a preservativos de borracha sintética, como o poliisopreno.

 

Há, ainda, outro benefício. Testes preliminares em um laboratório da Inglaterra indicam que, com a mesma espessura de um preservativo comum, a tecnologia brasiliense foi capaz de dobrar a resistência do produto.

 

Isso evita que o material estoure com facilidade – um dos principais problemas envolvendo o método contraceptivo.

 

Com a palavra, a ciência

 Para impedir o efeito alérgico, o látex é misturado ao tanino – extraído da casca de acácias, uma árvore encontrada principalmente no Rio Grande do Sul.

 

A substância já é conhecida por quem trabalha com curtume. Ela é utilizada para transformar a pele de animais em couro porque age isolando as proteínas de colágeno, impedindo a decomposição do tecido.

 

A ação é semelhante na borracha antialérgica, explica o professor Floriano Pastore Júnior, que lidera a pesquisa no Instituto de Química (IQ). O tanino serve para bloquear as proteínas que envolvem as partículas de látex.

 

É o contato dessas proteínas com o corpo da pessoa que provoca as reações alérgicas. Com o tanino, as proteínas encobertas continuam lá, inativas, e não produzem efeitos colaterais.

 

O professor estuda borracha há quase quatro décadas, mas a ideia de investir no preservativo hipoalergênico surgiu há cinco anos. “Quis levar a pesquisa para a área vegetal. Afinal de contas, se são as proteínas os alergênicos, por que não bloqueá-las?”, relembra.

 

“Adicionar tanino não piora a qualidade. Pelo contrário. Em 50 anos de pesquisa, o mundo inteiro trabalhou para retirar as proteínas. Mas quando isso acontecia, tirava também a resistência do material [ficava muito aquoso]", diz Pastore.

 

A camisinha em desenvolvimento também pode reduzir o dano da produção ao meio ambiente. Segundo o professor, o tanino dispensa a adição de amônia à camisinha. Na indústria tradicional, o composto é usado para garantir a consistência da borracha.

 

A olho nu, a única diferença em relação ao preservativo padrão é a cor. Por causa do tanino, o material fica com coloração amarronzada. “Se um dia tivermos essa camisinha vendida no mercado, ela vai ser da cor da pele.”

 

Problema de saúde pública

 O embaraço com a camisinha não é a única questão enfrentada por quem tem alergia a látex. O material é usado em diversos produtos na área da saúde.

 

“Se entram em contato com a borracha, de repente, começam a ter urticárias, vermelhidão. Isso seria uma alergia de pequeno grau. Mas se uma pessoa alérgica tem que usar um cateter interno, de látex, pode vir a ter um choque anafilático [reação grave e rápida, com risco de vida]", explica.

 

Próximos passos

 Conduzida pelo "professor Floriano", uma equipe de seis alunos da UnB faz incursões frequentes na Amazônia para coletar o látex de seringueiras.

 

Nas viagens, o grupo também tenta melhorar as condições de trabalho das comunidades locais – dando capacitação e desenvolvendo aprimoramentos para a borracha coletada, por exemplo.

 

Em um desses encontros, o cientista diz ter conhecido uma família "incomum" de seringueiros. "A mulher tinha alergia a camisinha, mas o homem não queria fazer vasectomia de jeito nenhum. Resumo da ópera: um total de 13 filhos”, conta.

 

Os primeiros experimentos devem ser feitos com o látex no formato de luvas – mais fáceis de testar do que as camisinhas. Só aí, o produto poderá entrar em produção industrial.

 

 

Por enquanto, o registro feito há um ano no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) só vale no Brasil. Até o fim dos testes, a equipe pretende estender a patente para o restante do mundo.

 

"Os outros países respeitam por até um ano e meio. Após esse prazo, cada país pode querer fazer algo semelhante. Mas queremos que essa patente seja estendida para ter validade no mundo todo e produzir royalties para pesquisas aqui na UnB. Hoje, já tem uma empresa que entrou na parceria para fazer a patente universal.”

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