Segunda-Feira, 19 de Junho de 2017 - Hora:14:56

Unicamp: Jambo e Jabuticaba fazem bem à memória e previnem contra doenças da obesidade

Pesquisa desenvolvida na Faculdade de Engenharia de Alimentos rendeu cinco artigos, dois dos quais já publicados

Uma pesquisa de doutorado da nutricionista Ângela Giovana Batista confirmou o benefício trazido pela jabuticaba e o jambo-vermelho para o aprendizado e memória em modelos animais, bem como a ação de compostos antioxidantes bioativos e fibras dessas frutas vermelhas na prevenção de doenças associadas à obesidade. A tese, orientada pelo professor Mário Roberto Maróstica Júnior, foi desenvolvida no Laboratório de Nutrição e Metabolismo, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), e teve coorientação da professora Maria Alice da Cruz Höfling, do Laboratório de Ultraestrutura Celular, do Instituto de Biologia (IB). Até o momento, a pesquisa rendeu cinco artigos, dois deles já publicados.

 

A nutricionista Ângela Giovana Batista, autora da tese: primeiro passo foi avaliar a composição química das frutas

 

“Nosso grupo trabalha com a jabuticaba desde 2008 e, como os estudos foram mostrando efeitos benéficos da fruta, resolvemos dar sequência à linha de pesquisa”, explica Ângela Batista. “O jambo é uma fruta que não conhecíamos e que decidimos investigar por não haver nenhum relato na literatura sobre seus efeitos, sendo que a produção de um jambeiro-vermelho é muito alta no Brasil. Na época da safra, a árvore produz muito e, a não ser no Norte e Nordeste, as pessoas não consomem as frutas, talvez por desconhecimento.”

 

Segundo a nutricionista, o jambo-vermelho é típico das regiões quentes, como de Araçatuba, onde ela colheu as amostras para a pesquisa. “Eu consumi a fruta in natura e seu sabor é ácido-adocicado, leve, parecido com o da maçã – as do Norte e Nordeste devem ter gosto diferente. O interessante é seu cheiro, é uma fruta que cheira a rosas. O jambo mostrou em sua composição quantidades expressivas de fibras e polifenóis, com destaque para antocianinas, que são compostos associados a propriedades benéficas contra doenças metabólicas.”

 

Ângela explica que o primeiro passo foi avaliar a composição química da jabuticaba e do jambo, pois a cada ano, e dependendo também da região, a sua composição vai se alterando. “A planta produz esses compostos bioativos (antioxidantes) para se defender dos efeitos de um clima indesejado para ela e, conforme o clima muda, ela apresenta quantidades diferentes destes compostos. Foi conforme a composição que formulamos as dietas hiperlipídicas para os animais, utilizando a banha de porco para melhor simular o que é consumido em termos de gordura nesses tempos de fast foods.”

 

Durante os ensaios biológicos, os camundongos passaram dez semanas consumindo dietas com baixa e alta concentração de gordura, suplementadas com a casca de jabuticaba e a polpa de jambo-vermelho. “Após esse tratamento, os animais mostraram melhoras em marcadores de obesidade, como diminuição da massa corporal gorda, maior resistência à insulina periférica, redução de marcadores pró-inflamatórios e aumento da defesa antioxidante (que combate os radicais livres do organismo). Todos esses parâmetros estão associados com a prevenção de diabetes tipo 2 – um problema de saúde pública de grande escala no Brasil e no mundo.”


Teste do labirinto

 

Ângela Batista considera que um aspecto inédito de sua tese foi a investigação do papel da jabuticaba e do jambo na memória dos animais. “No início das pesquisas, observamos que o hipocampo, que comanda a memória e o aprendizado (e uma das primeiras regiões do cérebro a ser afetada quando a doença de Alzheimer se inicia), sofria dano oxidativo devido à alta produção de radicais livres após o consumo de dieta gordurosa, além de não responder de forma adequada à sinalização da insulina nas células, promovendo a fosforilação de uma proteína chamada Tau.”

 

Trocando em miúdos, a nutricionista explica que a Tau é responsável pela polimerização de microtúbulos, contribuindo para manter a estrutura dos neurônios e principalmente dos axônios. “Quando fosforilada em vários sítios, a Tau se separa dos microtúbulos, e se associa formando emaranhados neurofibrilares. Esses emaranhados prejudicam a plasticidade neuronal e, assim, os neurônios perdem suas conexões e sinapses, ficando impedidos de executar tarefas de acesso e aquisição da memória. A suplementação da dieta gordurosa com ambas as frutas (jambo-vermelho e jabuticaba) não só prevenia esse dano, como aumentava a sensibilidade à insulina, evitando a formação de marcadores do Alzheimer como a fosforilação da Tau.”

 

Para confirmar os achados, acrescenta a autora da tese, os animais foram submetidos ao teste conhecido como “labirinto aquático de Morris”: durante cinco dias, eles foram treinados a encontrar uma plataforma escondida numa piscina. “No último dia, a plataforma foi retirada. Ao procurá-la, os animais que não receberam o suplemento na dieta nadavam a esmo, enquanto os que consumiram jambo e casca de jabuticaba nadavam exatamente no local onde estava a plataforma – uma brincadeira dentro do grupo era de que esses animais estavam usando GPS.”


Efeito preventivo

 

Ângela Batista antecipa que outros alunos do grupo de pesquisa já estão se envolvendo com a parte tecnológica da linha de pesquisa, buscando incorporar essas frutas vermelhas em produtos que cheguem rapidamente ao consumidor. “Já investigamos, por exemplo, os efeitos do chá da casca de jabuticaba e também em barra de cereais. Começamos a divulgar os nossos estudos com essa fruta em 2012 e, não sei se por coincidência, chegam notícias da utilização de sua casca para a produção de farinhas, sucos, iogurtes e sorvetes. Mas é importante salientar que tais produtos, quando viabilizados, têm efeito preventivo e não curativo.”

 

A crença da pesquisadora, de qualquer forma, é de que a prevenção é mesmo o melhor remédio, dando o exemplo do mal de Alzheimer, que começa a se desenvolver dez ou quinze anos antes de ser diagnosticado. “Ocorre que os marcadores do Alzheimer já estão lá – e é quando a alimentação é muito importante. Hoje as pessoas demonstram mais consciência de que ‘você é o que você come’, retomando valores da antiga medicina pregada por Hipócrates: que seu alimento seja seu medicamento.”

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